17 fevereiro, 2008

O olhar do animal

Ao voltar meus olhos para o animal
Percebo a forca do seu sentimento
Pois resisto, de certo modo, a encara-lo
A franqueza recebida de volta é por demais forte
Então meus pobres olhos humanos não aguentam
Me viro e penso...

O olhar do animal me faz sentir desarmado
Parece que ele já me conhece, apenas em um relance
Ele já sabe o que vou fazer, temo e me viro
Quero evitar ser mais desvelado ainda
Sem medo algum ele adentra em meu ser
Avisando que esta ali para ficar
Penso mais...

A raça humana ignorante, sempre se alimentou do animal
Numa caçaada, frente a frente, o homem foge, pois sabe que o olhar e de vitoria
Quando atira, e acerta, o homem encara a presa, pois sabe que o olhar e de morte

A raça humana inteligente, superou o animal
Criou vínculos, seja em jaulas, seja domesticando, seja servindo-se dele
Com isso, o homem se manteve próximo ao olhar do animal, se sentindo superior
Mas, temendo sempre, duvidando sempre

Homens e animais vieram da selva
Os homens criaram as cidades
Os animais sempre vão pertencer a selva
Os homens trouxeram os animais para as cidades
Alguns se adaptaram ao lares, outros as mesas apenas
Fim das caçaadas, fim de algum medo

Poucos sentimentos conhecemos dos animais
Talvez só aqueles que compartilhamos
Medo, dor, carência, fome, segurança, necessidades básicas de todo humano

Tento uma nova afronta
Sei que ambos temos, la no fundo, o instinto da selva
Sabemos analisar a hora de correr, a hora de atacar
Nessa hora o olhar é fundamental
Aquele que tiver menos certeza, corre e se esconde

Mas para minha surpresa
Senti uma mudança em nossas naturezas
A amizade que existe dentro de casa ou andando na rua
A conversa amistosa de olhares
A convivência passou a falar mais alto
O medo deu lugar a certeza de uma conversa franca

Se cada um sabe do seu lugar,
Sabemos do espaço vasto que temos pelo mundo
Que tudo pode e deve coexistir
Os olhos se abrem para o conhecimento
O medo se vai, abro meu coração para o animal
E dentro de toda minha ignorância
Tento entende-lo como meu irmão, meu amigo, meu semelhante.

Meu animal hoje pode estar em fatias,
Pode estar aos meus pés em minha casa
Surgir correndo pelas ruas
Aparecer a qualquer momento em minha memória

Mas agora resolvi encara-los com toda a coragem e franqueza
Prestei atenção nos sentidos que isso me despertou
Deixei o medo se tornar meu amigo
Prestei atenção na historia que o olhar quer me contar

Aprendi mais sobre mim do que sobre ele
Entendi mais sobre mim, mas entendo que ele também se conecta comigo
Ele sabe ler meu olhar melhor do que eu o dele
Ele adormeceu na certeza da segurança
Eu permaneci pensando em como sinto falta que ele me olhe mais e mais
A cada dia, nos meus momentos de insegurança
Nos momentos de ausência, imagino ele sozinho e vejo que temos os mesmos medos
Temos a mesma necessidade de nos cuidarmos a unhas e dentes
E a mesma carência de buscar em alguém uma ajuda para toda nossa existência momentânea.

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