31 agosto, 2010

Volume

- Mamae, to saindo pra rua! Gritou Suzete.
- Filha, voce lavou a cabeca? Disse a mae com voz de descaso obrigando a filha a voltar e tentar entender.
- Mae minha, ja te falei que nao posso lavar a cabeca agora e sair, é frio e pode fazer mal, sem contar que meu cabelo vira uma explosao de pelos.
-Filha, entao nao saia, sair nao é mais importante que uma cabeca cheiros pra mamae!
Suzete comecou a ter xiliques e tremiliques, xispou correndo pras ruas e largou a mae a bordar, abordar o pai, a bordar um gorro, e o pai respondeu:
- Deixa a minina, ja nao basta esse nome que voce a fez carregar, todos na rua ja devem fazer piadas maldosas, enquetes com o nome de Suzete.
- Por isso mesmo que eu mando ela lavar a cabeca toda noite, pra segurar a bixa em casa, de cabelos armados e sem piadas com Suzete repete, cospe chicrete, e por ai vai...voce sabe.
Dondocas gritavam nas ruas, guris pisotevam o chao como se fossem empurrar o planeta pra baixo, se divertindo mais do que seus pais podiam imaginar.
Suzete era uma das dondocas, e seu cabelo ensabadinho estava bem comportado ate que Giusepe lanca uma bomba dagua revestida de latex. Quase estourou na cabeca da guria. Ela ficou entao tensa com a possibilidade, andou pra perto dele braba este, peste, lascou lhe um beijo em seus labios joviais e ao deixar Suzete atordoada comecou a gritar, Suzete me fez um boquete infinitas vezes, todos riam a esmo mesmo que nem soubessem o real significado.
- Suzete gosta de chiclete, gritou Giusepe, e grampeou-lhe uma goma nos cabelos da guria, e na sequencia pediu perdao.
- Perdaoooo? Isso nao salva meu cabelo, e agora?
- Agora eu te lavo, e lascou o latex inchado com agua em sua cabeca.
Tudo rebentou, e Suzete correu pra casa antes que sua cabeca de chiclete virasse uma selva peluda.
Chegando no lar sua mae a esperava com a tesoura em maos e disse.
- Vem ca que eu dou um jeito nisso.
Suzete crente, cabeluda, achou que sua mama ia remover a goma.
Eis que sua cabeca surge rodopiando na maquina de lavar, vendo tudo girar, sem acao ouviu um voz estridente da mae:
- Eu falei Suzete, eu falei pra vc lavar essa cabeca, eu disse antes de vc sair, e agora?
Agora o corpo jazia o chao enquanto a maquina lavaria a cabeca de Suzete dia apos dia.

27 agosto, 2010

Rachado

Vc gosta mesmo de uma corporacao bem cheirosa, com mto cheiro de cimento, marmore, carpet novinho, cola de sapateiro, terno ensebado de tanto usar no calor de SP, sapatos engraxados de solas gastas e tortas, homens carecas e de costas peludas, bafo de dente podre e cigarro misturado com cafeh, bexiga doendo, almocos lotados, esbarrando os bracos nas mesas apertadas da vila olimpia, cheiro de rango requentando o dia todo, assuntos inuteis e piadas infelizes, ideias infaliveis que te fazem sonhar com as terras altas da escocia pra fugir pra bem longe, ou entao um pulo de bungee jump na nova zelandia ou ainda comprar uma faca bem afiada e degolar certos pescoços e ouvir o som do sangue vertendo em pequeninas ondas enquanto vc come seu pastel pq ganha mal pra pagar um almoco decente todo dia.

08 agosto, 2010

Seja bem vindo

Desde que chegamos ao planeta Terra estamos tendo problemas em nos apresentar, em saber onde ir buscar nossa felicidade, onde somos bem vindos afinal?

Filhos que nascem e logo são largados nas latrinas e sarjetas, amores que são recusados em troca de qualquer outra gorjeta. E então, pra onde ir agora? Talvez um novo estado, uma nova rua em um outro país...talvez ao chegar eu consiga distinguir no meio daquele povo alguem que me diga, seja bem vindo meu irmão, seja bem vindo ao meu coração.

Irmãos que desejam mutuamente as quantias materiais e outros luxos entre sí próprios...casais que se uniram e agora buscam estar o mais distante possível em suas mentes. Sonhos partidos, distantes ao infinito. A era que já era, a parte que se parte, a volta que nao volta mais.

Entre safras, entre um e outro, entre lá e cá, o que importa agora é saber viver com o que temos. Viver com o que temos é pra mim o mesmo que construir e criar, passou a fase de angariar bens, cavar fundos e preenche-los, de querer ter mais. Criar com o que temos agora é por em prática tudo que somos, é realmente encontrar o caminho dentro de nossa própria confusão existencial. É desatar o novelo de lã e esticar entre os irmãos de coração para um nova trama.

Quantas peças você ainda tem? Quantos acordes você conhece para montar uma canção? Eu sinto lá bem no fundo um clamor, pode ser uma orquestra tocando, pode ser um ruído de fome estomacal, pode ser um bater na porta, mas é o som que te faz acordar pra vida e construir o dia de hoje. Bagagem todos temos e sempre trazemos. Futuro todos temos garantido. O que falta é agora, é dar a mão pro primeiro que pedir e seguir rumo ao desconhecido.

Nesta jornada não vejo pessoas se perdendo, mas se encontrando; não mais com doentes, mas entes queridos; não mais indo visitar camas, mas campos; não mais escavando o solo em busca de pedras, mas plantando sementes que crescem na velocidade em que os rios correm pelo mundo: nossa casa, mais arejada e iluminada, pelo sol , pela lua, e, toda rua que puseres o pé, é tua!