03 julho, 2007

peso das pedras, perco as pernas

ao ar, sigo ao atirar, pequenas pedras
flutuam no ar, flutuam na agua
cortam o ar, fatiam a agua

pesco as palavras, engulo as ondas
remo contra maré, remo como eu quisé
falta escuro de dia, falta escuro de noite

gafanhoto das greves, das neves
onde quer que esteja, não era pra la estar
debaixo das ruas foi seu lugar

alagar, alugar
as ruas, as casas
respirar, deglutir
poeira, cimento

enquanto caminho, escrevo
enquanto me sento, esqueço
faço toda a força possível
para vingar meu sentimento
me perco facilment, no meu esquecimento.

jarbas, passarinho

Sempre ouví Jarbas
Diziam ser Passarinho
Quando olhei para a tela da TV
Achei o grande demais
Passaros voam, são ageis e bailam em pleno ar
Ele estava demasiado gordo
Imenso ser, ao meu ver
Usava gravata, tentava ser belo
Mas eu nao aceitava
Achava realmente, grande demais
Para me agradar como um passaro agrada
Ao cantar, ao voar
Jarbas alçou voo, com ajuda de um passaro maior
Jarbas foi bem longe, inves de asas, um velho paleto
Jarbas tinha seu poder, aquisitivo e demonstrativo
Jarbas quando morrer, vai dar trabalho
Coitado do garotinho que acha-lo e quiser enterra-lo
Que cova grande ele necessitara
Para que jarbas e sua riqueza
Encontrem seu finado lar.

depois do depois

Começo aqui, algo que já teve seu começo há quase 30 anos atrás. Muita coisa mudou, mas eu sou o mesmo. Ainda me vejo nos outros, ainda me vejo ao espelho, do mesmo modo que me via. Talvez eu ainda seja o mesmo porque não reparei o quanto mudei. Não aceitei o fato de ter muito mudado, por dentro e por fora.
As vezes me apresento a mim mesmo, as vezes esqueço quem sou, olho a criança que fui, compartilho com ela tudo que sou. Ela me diz sobre seus medos, eu tento tirar dela toda a qualidade de não se fechar em um projeto só, a espontaneidade me parece desgastada. Mas ela insiste em me passar seus medos, e automaticamente eu não os aceito.
O adulto tenta se livrar da criança, mas ela existe dentro dele, o adulto deve agora recriar este pequeno infante que está preso em seu interior, eles devem viver juntos, até que o filho tenha sua versão externa, aquela que finalmente vai livrar o adulto dos medos e vai torná-lo um pai, e assim, meio que aos trancos e barrancos o adulto descobre a força que tem realmente e nunca mais vai perdê-la.
Eu sempre serei o filho, equanto não tiver meu próprio filho...