29 outubro, 2010

ha pedras para apedrejar

Uma noite para ser dormida
Uma vida a ser vivida

Um quadro que se apaga com a luz
O vento que o som produz
Me canso de viver
Mas nao passo sem dormir

Escrevi na pedra o seu nome e joguei
Me joguei nas pedras e o seu nome gritei

Afastei os moveis, procurando o diacho
Respirei fundo no riacho

As almas passeiam sem medo
Tentam entender os desejos
Foram homens e mulheres
E seus coracoes feridos a partilhar
Que enlouqueram as geracoes
De mae pra pai e de filha pra tia

Agora penso, é melhor buscar
Do que esperar, vendo o tempo passar eu adoeci
Sentindo o olho fechar me adormeci
Entre beijos numa lavoura
Entre cartas de uma masmorra
Escuri o meu dia pra clarear de noite

Resmunguei e cuspi
Engoli e resignei
Cantor de meia voz
Esquece o tempo e cansa do assento
Foi embora agora quem queria ficar.

21 outubro, 2010

quando eh pra ir embora?

Meu despertador eh a batida do coracao. Ele me acorda por dentro e mesmo durante o dia, enquanto sonho acordado ele diz que eh possivel viver aquilo que criei e dah umas batidas mais fortes dentro do meu peito humano. Ele avisa pra viver agora o que deve ser vivido e entao se acalma lentamente e mostra a serenidade, que deve ser como a vida deve ser tocada.

Mas ele bate e bate, meu corpo se estremece como uma fina arvore no alto de uma colina, solitaria e exposta aos ventos que chegam de todos os lados, sem aviso eles sopram em meus ouvidos ruidos de pavor, e quanto mais fortes mais me atormentam. Ouco agora um ruido muito agudo invadindo meu ouvido esquerdo que me diz pra correr, correr dele, correr para onde?

Algumas brisas mornas se esforcam e me alcancam, nao pelos timpanos, mas pelos poros adentram, viram substancias em minha corrente sanguinea e alimentam meu orgao pulsante, tum tum como tambores, tum tum ele se pronuncia. A cabeca comeca a pesar e doer. Como se clamasse por algo substancial tambem. Agua, oxigenio.

Em certos momentos eh como se minha alma se negasse a viver dentro deste corpo, e procurasse pela falencia de meu cerebro, pelo ataque cardiaco fulminante. E tudo que eu peco eh um pouco de tranquilidade.

Estaria eu tao aberto e vulneravel ao mundo assim? Massacrado por bilhoes de vozes que clamam por paixoes que eu mesmo nao busco, mas que geram em mim tanta ansiedade, tanto desespero, que a resposta seria a letargia total?

Como poderia uma arvore correr, se a cada passo suas raizes devem ser cravadas na terra? Quao lento pode ser esse processo. Sao muitas lacunas para serem preenchidas nesses dias. A seiva bruta machuca de tao densa ao correr pelos veios, parece congelar deixando os musculos rijos agora. O orgao pulsante eh meu musculo principal, sinto-o pontiagudo, machucando por dentro, dilacerando a carne ao seu redor.

Correr, gastar, fazem o liquido vermelho ficar mais fino e quente. Mover os musculos para circular as energias, alma e corpo se dividindo e voltando a se juntar a cada dia, a cada noite. Procuro um lar, procuro um abrigo, fecho os olhos e vejo bracos onde estive seguro, bracos familiares. Me estico todo tentando alcancar uma pontinha, fazer acontecer novamente.

Tento trabalhar, mas a dor apenas piora, esse trabalhou que tenho tentado desenvolver por 10 anos parece minha maior prisao, talvez seja isso que minha alma tente fugir. E quando tento explicar pra mim mesmo em forma de palavras escritas, sinto a suave voz da liberdade me dizer, meu filho, vc nao eh deste mundo, mas seu trabalho eh necessario aqui e agora, um agora que parece truncado, perdido, doloroso, mas que um dia serah lembrado na velocidade de um piscar de olhos. Faca o que seu coracao manda, faca-se real sua vontade, seja ela de verdade desta vez e entao sua alma sentirah prazer em habitar seu pqno corpo. Sinta musica do mundo e uso o seu tremor para toca-la. O ritmo cadenciado de seu coracao serah o marca compasso.

E eh como se agora eu visse novos bracos se abrindo diante de mim e uma floresta enorme, com uma temperatura agradavel, cheiros indescritiveis e ruidos de folhas ao vento. Eh outono, penso eu, as folhas voam suavemente sobre minha vida e eu ainda pesado e preso ao solo clamo por um passeio.

Bracos me erguem e as folhas tomam formas de seres voadores, seres sem asas, mas ao mesmo tempo, todo asas. As folhas sao as almas destas arvores e alcancam a liberdade se despreendendo de tudo, inclusive de suas maes naturais, voam e voam, aproveitam cada brisa, cada tufao. Pois mesmo tendo medo e sendo arrastadas pra longe elas estao voando e se aprazem.

Me sinto jovem demais pra ser raiz e velho demais pra voar sem medo com as folhas.

As almas mais antigas sao as menos enraizadas e sabem viver no ar, e as mais jovens caem rapido virando terra, aguardam a volta morosa ao cume, mas ao mesmo tempo depuradora de sentimentos, onde os mais puros restam e os mais brutos caem entre furos de uma peneira que trabalha ao contrario, indo contra os principios materiais.

07 outubro, 2010

tum e tum

Caminho pela rua perfeita
Sem buracos, sem remendos
Caminho pela estrada vazia
Sem carros, sem corpos

Sem tropecos, sem quedas
Sem atropelmentos e esbarroes

A vida desaparece, assim

Pelos buracos procuro cair e encontrar um amor
Pelos remendos tendo trupicar e achar um amigo

Quedas e buracos nao trazem amor
Tropecos podem trazer amigos, aqueles que te dao a mao

A estrada perfeita inexiste
A sola do calcado se acaba
O teto vai ficando mais baixo
O ar mais pesado, custa a entrar nos pulmoes
Cada batida do coracao tem menos forca

Tum, tum
Tum e tum
Tum silencio tum
Tum ou .........

25 setembro, 2010

Todos os alfabetos do mundo

Por quantas vezes somos crianças? – Eu me pergunto.

Por quantas eu, tu, nós, vós e eles pelo mundo afora sentiram que estavam pequeninos diante da vida, diante de um universo que parece estar em constante expansão?

Sigamos então com ele, o universo. Este foi meu desejo ao deixar a pátria amada, tentar enxergar melhor o mundo em que vivemos, pois eu gostaria de provar mais de meu desejos, mostrar mais do meu modo de vida para pessoas diferentes e então, aprender com elas. Eu imaginava que existiriam outros modos de viver essa mesma vida. Do mesmo modo que o Planeta Terra é apenas um potinho no universo, eu me sentia um micróbio que não conhece o mundo.
Meu desejos foram ingênuos e simples, gostaria de vir e andar livre pelo velho continente, admirar as paisagens que conhecia apenas por fotos. Ouvir muitos idomas diferentes, aprender novas palavras e com elas novas sensações.

Mas, a partir do momento que eu decidi ficar e viver aqui, tudo mudou drasticamente. Eu ví, senti, que não estava realmente preparado. Poderia eu ter vindo antes do tempo? Não sei. Mas cá estou e todos os meus medos e receios estão a flor da pele.

Pensei, melhor será ficar e escutar o que eles tem a me dizer. Medo e receio me envolvem, algo me puxa de volta ao Brasil.

Ando pelas ruas como uma criança, muitas vezes tendo que pedir para um amigo me ajudar com algo simples, como se fosse eu a criança agora pedindo a um adulto para me explicar o que aquela outra pessoa tanto disse.Eu não conheço as palavras, mas conheço os sentimentos, porém isto se fundo e começo a achar que não entendo nada mais. Como funcionam as leis aqui? Estou sendo mal educado? Pessoas são pessoas? Compartilham das mesmas necessidades?

Lembro que quando aprendi a ler, eu vi um mundo novo brotar diante de meus olhos, eu saía de carro com meus pais e ia lendo todas as palavras que me eram apresentadas. Vitrines, letreiros, outdoors, mesmo que eu nada entedesse eu tinha o poder da leitura. E esse novo mundo das palavras veio a frente, ganhou foco.

Outro dia no U-bahn senti a mesma coisa, o mesmo sentimento, tudo que estava desfocado veio a frente e eu comecei a ler e reler, mesmo que nada entendesse. Era eu novamente a criança. Ganhei o direito de recomeçar uma vida aqui. Porém meus pais agora são as pessoas do mundo. Muitas não conheço porém me ajudam como se fossemos parentes de sangue, outras brigam comigo, dando educação.

A criança do mundo, eu, entendo e aceito minha condição, essa chance. Confesso que eu sempre quis isso pra mim, não me agrada a ideia de crescer rápido e me ver um adulto prematuro. Gosto de estar apto de verdade, dizem que cada um tem seu tempo. Assim como todas as flores escolheram a primavera, devem existir outras que preferem dias mais difíceis para mostrar seu encanto ou para aprender a se mostrar.

Há um espaço vazio à minha volta, e à mim ele pertence. E vou tentando expandir, vou falando bem devagar, vou tropeçando e levantando. Vou amando mais meu país e sinto que ele nunca vai me deixar. Peço perdão por ter falado mal dele. Pois agora entendo-o muito melhor.

Leio e releio tudo como uma pequena pessoa, estou me alfabetizando, assim como quando comecei a aprender a ler música, dentro das 5 linhas do pentagrama, também me via pronunciando sílaba após sílaba, nota após nota. A melodia estava alí no papel esperando por ser cantada, mas a fluência viria apenas com o tempo, com a dedicação. E assim sigo vivendo agora. Se no Brasil eu já andava, corria, cantava e sorria. Imagine o que é voltar a engatinhar, dar lentos passos, tropeçar feito uma pequena criança que olha ao redor, chora e clama por ajuda.

Ando pelas ruas tentando me encaixar aqui, não que eu procure um novo grupo, mas me encaixar comigo mesmo, me sentir natural dentro deste novo habitat, pois só depois disso eu naturalmente serei absorvido.

Parado estava observando o mundo correr quando veio um ser falar comigo, e eu aprendi uma nova linguagem! Um ser pequeno, como eu, coberto com uma roupa diferente, coberto de penas e com olhinhos miúdos, patinhas fininhas quase escondidas no corpinho redondo. Sim, um pássaro veio me falar, ele me olhou assim meio de lado, na certeza que eu entenderia seu apelo. Fiquei pensando nele, imaginei que palavras eu não deveria usar para me comunicar, então ele deu o primeiro passo na conversação e voou para perto de meu rosto. Eu estava comendo sorvete de casquinha e com esse ato ele me fez entender o que queria e as palavras brotaram em meu pensamento: “você quer compartilhar do alimento, meu amigo?”. Entendi! Quebrei uma lasquinha da casquinha e coloquei sobre a quina do canteiro de flores onde estávamos. Ele teve receio, saiu um pouco de perto, mas veio logo e bicou a lasca do alimento sem receios por eu estar ali pertinho. Me olhou novamente pedindo um teco mais, e claro, agora já falávamos a mesma língua. Dei-lhe um pouco mais e comemos este resto juntos. Ele agradeceu e foi-se embora voando. Eu também agradeci a prosa e fui embora sorrindo.

Essa lasca de vida eu peço a todos vós, que deem sempre, seja em forma de palavras, seja em carinho, seja com um sorriso mesmo. Pois cá estamos juntos dentro da enorme bola terrestre, e falamos a mesma língua, sim, todos falamos o mesmo idioma.

E ao final eu digo, é um enorme prazer, nascer de novo, dentro da mesma vida!

31 agosto, 2010

Volume

- Mamae, to saindo pra rua! Gritou Suzete.
- Filha, voce lavou a cabeca? Disse a mae com voz de descaso obrigando a filha a voltar e tentar entender.
- Mae minha, ja te falei que nao posso lavar a cabeca agora e sair, é frio e pode fazer mal, sem contar que meu cabelo vira uma explosao de pelos.
-Filha, entao nao saia, sair nao é mais importante que uma cabeca cheiros pra mamae!
Suzete comecou a ter xiliques e tremiliques, xispou correndo pras ruas e largou a mae a bordar, abordar o pai, a bordar um gorro, e o pai respondeu:
- Deixa a minina, ja nao basta esse nome que voce a fez carregar, todos na rua ja devem fazer piadas maldosas, enquetes com o nome de Suzete.
- Por isso mesmo que eu mando ela lavar a cabeca toda noite, pra segurar a bixa em casa, de cabelos armados e sem piadas com Suzete repete, cospe chicrete, e por ai vai...voce sabe.
Dondocas gritavam nas ruas, guris pisotevam o chao como se fossem empurrar o planeta pra baixo, se divertindo mais do que seus pais podiam imaginar.
Suzete era uma das dondocas, e seu cabelo ensabadinho estava bem comportado ate que Giusepe lanca uma bomba dagua revestida de latex. Quase estourou na cabeca da guria. Ela ficou entao tensa com a possibilidade, andou pra perto dele braba este, peste, lascou lhe um beijo em seus labios joviais e ao deixar Suzete atordoada comecou a gritar, Suzete me fez um boquete infinitas vezes, todos riam a esmo mesmo que nem soubessem o real significado.
- Suzete gosta de chiclete, gritou Giusepe, e grampeou-lhe uma goma nos cabelos da guria, e na sequencia pediu perdao.
- Perdaoooo? Isso nao salva meu cabelo, e agora?
- Agora eu te lavo, e lascou o latex inchado com agua em sua cabeca.
Tudo rebentou, e Suzete correu pra casa antes que sua cabeca de chiclete virasse uma selva peluda.
Chegando no lar sua mae a esperava com a tesoura em maos e disse.
- Vem ca que eu dou um jeito nisso.
Suzete crente, cabeluda, achou que sua mama ia remover a goma.
Eis que sua cabeca surge rodopiando na maquina de lavar, vendo tudo girar, sem acao ouviu um voz estridente da mae:
- Eu falei Suzete, eu falei pra vc lavar essa cabeca, eu disse antes de vc sair, e agora?
Agora o corpo jazia o chao enquanto a maquina lavaria a cabeca de Suzete dia apos dia.

27 agosto, 2010

Rachado

Vc gosta mesmo de uma corporacao bem cheirosa, com mto cheiro de cimento, marmore, carpet novinho, cola de sapateiro, terno ensebado de tanto usar no calor de SP, sapatos engraxados de solas gastas e tortas, homens carecas e de costas peludas, bafo de dente podre e cigarro misturado com cafeh, bexiga doendo, almocos lotados, esbarrando os bracos nas mesas apertadas da vila olimpia, cheiro de rango requentando o dia todo, assuntos inuteis e piadas infelizes, ideias infaliveis que te fazem sonhar com as terras altas da escocia pra fugir pra bem longe, ou entao um pulo de bungee jump na nova zelandia ou ainda comprar uma faca bem afiada e degolar certos pescoços e ouvir o som do sangue vertendo em pequeninas ondas enquanto vc come seu pastel pq ganha mal pra pagar um almoco decente todo dia.

08 agosto, 2010

Seja bem vindo

Desde que chegamos ao planeta Terra estamos tendo problemas em nos apresentar, em saber onde ir buscar nossa felicidade, onde somos bem vindos afinal?

Filhos que nascem e logo são largados nas latrinas e sarjetas, amores que são recusados em troca de qualquer outra gorjeta. E então, pra onde ir agora? Talvez um novo estado, uma nova rua em um outro país...talvez ao chegar eu consiga distinguir no meio daquele povo alguem que me diga, seja bem vindo meu irmão, seja bem vindo ao meu coração.

Irmãos que desejam mutuamente as quantias materiais e outros luxos entre sí próprios...casais que se uniram e agora buscam estar o mais distante possível em suas mentes. Sonhos partidos, distantes ao infinito. A era que já era, a parte que se parte, a volta que nao volta mais.

Entre safras, entre um e outro, entre lá e cá, o que importa agora é saber viver com o que temos. Viver com o que temos é pra mim o mesmo que construir e criar, passou a fase de angariar bens, cavar fundos e preenche-los, de querer ter mais. Criar com o que temos agora é por em prática tudo que somos, é realmente encontrar o caminho dentro de nossa própria confusão existencial. É desatar o novelo de lã e esticar entre os irmãos de coração para um nova trama.

Quantas peças você ainda tem? Quantos acordes você conhece para montar uma canção? Eu sinto lá bem no fundo um clamor, pode ser uma orquestra tocando, pode ser um ruído de fome estomacal, pode ser um bater na porta, mas é o som que te faz acordar pra vida e construir o dia de hoje. Bagagem todos temos e sempre trazemos. Futuro todos temos garantido. O que falta é agora, é dar a mão pro primeiro que pedir e seguir rumo ao desconhecido.

Nesta jornada não vejo pessoas se perdendo, mas se encontrando; não mais com doentes, mas entes queridos; não mais indo visitar camas, mas campos; não mais escavando o solo em busca de pedras, mas plantando sementes que crescem na velocidade em que os rios correm pelo mundo: nossa casa, mais arejada e iluminada, pelo sol , pela lua, e, toda rua que puseres o pé, é tua!