21 outubro, 2010

quando eh pra ir embora?

Meu despertador eh a batida do coracao. Ele me acorda por dentro e mesmo durante o dia, enquanto sonho acordado ele diz que eh possivel viver aquilo que criei e dah umas batidas mais fortes dentro do meu peito humano. Ele avisa pra viver agora o que deve ser vivido e entao se acalma lentamente e mostra a serenidade, que deve ser como a vida deve ser tocada.

Mas ele bate e bate, meu corpo se estremece como uma fina arvore no alto de uma colina, solitaria e exposta aos ventos que chegam de todos os lados, sem aviso eles sopram em meus ouvidos ruidos de pavor, e quanto mais fortes mais me atormentam. Ouco agora um ruido muito agudo invadindo meu ouvido esquerdo que me diz pra correr, correr dele, correr para onde?

Algumas brisas mornas se esforcam e me alcancam, nao pelos timpanos, mas pelos poros adentram, viram substancias em minha corrente sanguinea e alimentam meu orgao pulsante, tum tum como tambores, tum tum ele se pronuncia. A cabeca comeca a pesar e doer. Como se clamasse por algo substancial tambem. Agua, oxigenio.

Em certos momentos eh como se minha alma se negasse a viver dentro deste corpo, e procurasse pela falencia de meu cerebro, pelo ataque cardiaco fulminante. E tudo que eu peco eh um pouco de tranquilidade.

Estaria eu tao aberto e vulneravel ao mundo assim? Massacrado por bilhoes de vozes que clamam por paixoes que eu mesmo nao busco, mas que geram em mim tanta ansiedade, tanto desespero, que a resposta seria a letargia total?

Como poderia uma arvore correr, se a cada passo suas raizes devem ser cravadas na terra? Quao lento pode ser esse processo. Sao muitas lacunas para serem preenchidas nesses dias. A seiva bruta machuca de tao densa ao correr pelos veios, parece congelar deixando os musculos rijos agora. O orgao pulsante eh meu musculo principal, sinto-o pontiagudo, machucando por dentro, dilacerando a carne ao seu redor.

Correr, gastar, fazem o liquido vermelho ficar mais fino e quente. Mover os musculos para circular as energias, alma e corpo se dividindo e voltando a se juntar a cada dia, a cada noite. Procuro um lar, procuro um abrigo, fecho os olhos e vejo bracos onde estive seguro, bracos familiares. Me estico todo tentando alcancar uma pontinha, fazer acontecer novamente.

Tento trabalhar, mas a dor apenas piora, esse trabalhou que tenho tentado desenvolver por 10 anos parece minha maior prisao, talvez seja isso que minha alma tente fugir. E quando tento explicar pra mim mesmo em forma de palavras escritas, sinto a suave voz da liberdade me dizer, meu filho, vc nao eh deste mundo, mas seu trabalho eh necessario aqui e agora, um agora que parece truncado, perdido, doloroso, mas que um dia serah lembrado na velocidade de um piscar de olhos. Faca o que seu coracao manda, faca-se real sua vontade, seja ela de verdade desta vez e entao sua alma sentirah prazer em habitar seu pqno corpo. Sinta musica do mundo e uso o seu tremor para toca-la. O ritmo cadenciado de seu coracao serah o marca compasso.

E eh como se agora eu visse novos bracos se abrindo diante de mim e uma floresta enorme, com uma temperatura agradavel, cheiros indescritiveis e ruidos de folhas ao vento. Eh outono, penso eu, as folhas voam suavemente sobre minha vida e eu ainda pesado e preso ao solo clamo por um passeio.

Bracos me erguem e as folhas tomam formas de seres voadores, seres sem asas, mas ao mesmo tempo, todo asas. As folhas sao as almas destas arvores e alcancam a liberdade se despreendendo de tudo, inclusive de suas maes naturais, voam e voam, aproveitam cada brisa, cada tufao. Pois mesmo tendo medo e sendo arrastadas pra longe elas estao voando e se aprazem.

Me sinto jovem demais pra ser raiz e velho demais pra voar sem medo com as folhas.

As almas mais antigas sao as menos enraizadas e sabem viver no ar, e as mais jovens caem rapido virando terra, aguardam a volta morosa ao cume, mas ao mesmo tempo depuradora de sentimentos, onde os mais puros restam e os mais brutos caem entre furos de uma peneira que trabalha ao contrario, indo contra os principios materiais.

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