12 abril, 2008

um novo dia, nossos corpos falam, mesmo enquanto as bocas permanecem caladas

Sentado numa cadeira qualquer, assim como meus músculos mostram fraqueza para se levantar e buscar agua na cozinha, meu cérebro rejeita a idéia de se levantar e buscar aquilo que se deseja. Ao invés disso ele prefere analisar o caminho a percorrer e tentar trazer a montanha até aqui. A idéia de fato é que o esforço gasto indo até nossos desejos pode ser evitado, pois uma hora algo vai acontecer, e esse algo pode se transformar naquilo que queremos, então a espera perdura.

O que nunca prevemos é que o fato de nos movermos em direção a algo significa que estamos realmente mudando o mundo que nos cerca, algo como a teoria do caos talvez, o movimento empurra algo que passa adiante e a inércia está quebrada. Só o fato de nos levantarmos da cadeira naquele momento que o cérebro identifica sede,por exemplo, e nos movermos até a cozinha gera uma mudança no ambiente, primeiro de tudo a cadeira pode ser deslocada, e ao redor todo o ar que nos cerca se move, uma poeira pode alçar vôo, o gato percebe a movimentação e se espreguiça, mais ar é deslocado, então o gato pede carinho, isso gera mais movimento em nosso corpo quando nos movemos em sua direção com a mão aberta alisando a cabecinha peluda do bixano. Os joelhos, que já haviam obtido um estralo ao se desdobrarem no ato de se levantar, músculos ficam rijos, finalmente acordando. Aquela ponta de disposição surge ao se olhar pela janela e nossa mente cria uma fagulha como que um carro dando partida, e o por um segundo o mundo que estava restrito a estas paredes sem cor toma uma proporção infinita, pois lá fora tudo muda todo dia, e o limite parece ser inexistente quando não damos atenção aos nosso irrisórios medos.

O primeiro passo é o mais complicado, promover a quebra da apatia, da resistência criada por décadas sem agressão. Mas uma vez lá fora percebemos que até o ar que respiramos é diferente, ele está sempre em movimento, de certo modo nos impulsiona, nos torna potentes, os olhos tão curiosos querem ver quantos carros irão passar antes de atravessarmos uma rua, quantas pessoas perdidas estão a se mover. Todas parecem seguir seus trilhos invisíveis, parecem sempre saber onde estão indo, e mesmo assim eu as julgo perdidas, e sempre tem pressa por chegar em algum lugar, o qual vão sentar e estagnar. Assim eu vou vagueando por todas essas passarelas da vida cotidiana. Todo o peso do mundo saiu das minhas costas, esqueci que preciso fazer algo, porque não tenho realmente nada a fazer, desde os instintos básicos como comer ou dormir, até o fato de raciocinar estão lá atrás tentando me alcançar e eu dando uma canseira neles, pois agora estou vendo tudo por cima, tentando me situar nessa confusão que é o mundo.

De fato, sinto que ninguém pode me acompanhar nesta marcha, me sinto sozinho, e ao mesmo tempo algo conversa comigo em meus pensamentos e vou respondendo. Nesse momento em que me livro de todas as cargas que carrego no dia-a-dia é inevitável que a marcha seja solitária, pois com mais alguém eu estaria tentando adivinhar as preocupações e necessidades de outrem, isso poderia quebrar o feitiço que criei para levitar.

Entretanto meu maior desejo é compartilhar isso com você, não pense que não carrego sua imagem dentro de mim. Ela, sua imagem, me acompanha, claro que do meu jeito, pois só assim ela existe de verdade. Mas quanto ao meu desejo, talvez seja algo impossível no mundo enquanto estamos acordados. Na leveza dos sonhos tudo acontece mesmo sem palavras, creio que tudo possa ser realizado. Mas enquanto somos carregados por nossos corpos parece me quase impossível que as vontades e necessidades sejam idênticas ao longo desta marcha que pratico buscando elevar me sobre a vida que vivemos, buscando entender por que diabos fazemos tanta merda, seja esperando algo acontecer, seja nos direcionando por razões tão egoístas quanto nossos olhos podem desconhecer.

O que eu busco é instalar essa habilidade em mim, olhar em volta, reunir os pequenos afazeres do dia-a-dia, somar aquelas vontades mais primais e criar uma rotina mais humana do que esta que julgo sintética que as pessoas em geral usam, compram, gastam, vivem. Não existe criação, mesmo que mental, sem movimento do corpo, vire os olhos, busque aquilo que ninguém percebeu, mova suas pernas até a outra janela, tome algo que faça seu corpo despertar, algo gelado para mudar a temperatura, faça seus poros exalarem seu cheiro, e assim atraia novos semelhantes para esse confronto de idéias.

Mesmo que nada seja concretizado, pelo menos o marasmo que nos cerca começa a se afugentar, pelo menos uma fagulha pode brilhar e a partida desse motor pode estar próxima de realmente acontecer, e gerar o movimento em busca de um posto na esquina prestes a completar o tanque do raciocínio desvairado e alimentar a busca inconsciente que logo mais deve fazer sentido em nossas vidas.

Um comentário:

Anônimo disse...

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