17 dezembro, 2009

Recanto Lunar

Sim, consegui, cheguei na lua! Me isolei as cores, das flores, das nuvens e seus formatos... Cheguei aqui ontém a noite, e escolhi morar no lado sombrio, para evitar os dias. A cada passo na lua me sinto mais leve, e a cada segundo me sinto mais breve. As pedras são constantes, a poeira lunar já se impregnou em meus pulmões e minhas roupas nunca mais serão as mesmas sem ela, a poeira.

Não me sinto sozinho aqui, vendo o que vejo, tudo faz sentido, todo este espaço em volta serve para eu me criar, me replicar, andando em círculos tão devagar, que quase sinto que vou me alcançar. Sinto um leve toque no ombro, mas não olho para trás, como num flash, em camera lenta, minha mente começa a desenhar um momento real que foi vivido meses atrás e a paisagem lunar se transforma em tela para meus pensamentos.

Sobre o solo cinza do satélite terrestre eu admiro minha mãe em sua casa, e eu chegando de volta com minhas coisas, cansado, tudo tão pesado em meus ombros, nervos rígidos. Parecia que viria um sono de 100 dias, sim eu gostaria de deixar a luz de lado, dormir durante 100 dias e viver acordado admirando 100 noites. O ar estava mais leve, mas eu havia esquecido de como respirar. Tentei me cansar para reaprender, fiquei sem fôlego, me assustei com o barulho de uma respiração profunda.

Daqui da lua me vi tocando o solo com o rosto, grama e terra aconchegados em minha face, eu me acariava com o planeta, tamanha carência que sentia.

Mas depois me ví esquecendo da carinho, e meus olhos novamente viciados se voltavam para uma tela tela brilhante, que mistificou demais o mundo há 10 anos atras. Esperando algo vir, sentado esperando. Esquecendo me das contribuições que prometi dar ao planeta, em troca daquele carinho, uma viradinha de cabeça para a esquerda e tudo ficaria perfeito...mas o pescoço parecia fixo, em frente, rente, aderente a tela.

Daqui da lua eu vejo tudo, achei que perderia os detalhes pela distância que me encontro do mundo, mas ainda crio estas telas quase que automaticamente, procurando respostas que nunca vão existir, procurando a mim mesmo no vazio, perdendo e ganhando sem saber medir.

Talvez eu já tenha ido embora, talvez eu seja apenas um caco, um teco, um trecho de alguma pessoa, talvez eu seja o reflexo difundido no espaço que esbarrou na lua. Talvez não haja volta mesmo e daqui para frente a vida toma um rumo diferente, coisa que eu ainda não soube aceitar.

O vazio lunar aos poucos vai me fazendo ter vontade de criar, a ausencia de sons e cores, me obriga a me mover e criar, aqui, se não for eu, ninguém mais será.

2 comentários:

Camila Rastoldo disse...

zona lunar, hora de dormir, apagam-se os dias, vivem-se os sonhos... restauram a alma ...

Bianca Bibiano disse...

hum... me parece bem você, do jeito que quer ser visto hehehe
mas não sei se é esse o sentido.
=]