Pense em uma engrenagem de qualquer tamanho, presa a um mundo qualquer, sim, presa por uma barra de ferro à uma parede. Ela está presa e solta no ar, livre para rodar, mas sozinha fica difícil por demais, ela pensa, ela tenta, ela sente o vento a impulsionar.
Ela nasceu, e seus pais foram fazendo força para girá-la, seus pais estavem alí sempre acoplados, dente a dente, alimentando o movimento, impulsionando a cada instante. As vezes eles tinham que sair de perto, e sentir se o impulso era suficiente, ou se tinha que aplicar mais forças.
E assim a vida foi seguindo, muitas outras engrenagens foram aparecendo, professores e amigos, músicas e inimigos, amores e dores, viagens e doenças, religiões e crenças, desejos e frustrações. Tudo isso mexia com aquela engrenagem. E a velocidade nunca era constante por muito tempo. Bem como seu tamanho tambem oscilou, mas este sempre aumentando.
Porem uma lição importantíssima estava para ser aprendida, e seria esta a mais importante, juntando-se com a a velocidade e tamanho, a engrenagem teria que aprender sobre sincronia.
Mas sempre que a velocidade da engrenagem ia reduzindo ela se afobava, sentia que poderia ficar sozinha, para trás, seus pais não davam mais conta, quando se conectava a eles era como uma suave brisa vindo dos oceanos, e muitas vezes eles também enferrujavam na...era hora de saber se encontrar no mundo.
E mesmo ela sendo de metal, com dentes fortes, ela esqueceu-se da física que havia aprendido. A primeira lei, 2 corpos solidos não ocupam o mesmo lugar no espaço, e da questão da velocidade, quão maior a engrenagem associada, maior a velocidade e força que ela nos imprime.
Rapidamente ele tratava de se enconstar e se ligar a rodas dentadas que lhe apareciam pela frente, algumas mto pequenas, se esforçando, muito rapidamente rodando. Essas artimanhas chamavam a atenção, mas estas velozes rodinhas rapidamente se cansavam, e sumiam, ou então, muito comum era elas se adormecerem ao lados da nossa querida engrenagem, deixando toda a força dela os alimentar.
Muitas vezes nossa querida engrenagem reduzia sua velocidade para conseguir se encaixar as rodas lentas simplesmente porque estavam próximas, deixava de lado aspirações para estar com estas que muito dizem e nada cumprem, que culpam todos os problemas por não achar solução. Mas oras bolas, um problema é uma solução em potencial?!?!
Poxa, então ela estava presa a algo que não ajudava, ao invés, revés. Lhe sugava energias. Agora não havia espaço para outras associações, aos poucos ela tentou se ligar a uma religião, seus dias até ficaram melhores, mas ela ainda teria que experimentar muito para decidir. Ela queria fazer arte, barulho, queria espirrar tinta em muros antigos.
Ela foi tentando remover as pequenas engrenagens que já estavam mortas ao seu redor, como uma reforma nos dentes, buscando um novo brilho, foi reduzindo sua propria velocidade, notando que aos poucos aquilo que havia se agarrado a ela ia se soltando, caindo como uma praga cai morta quando já não reconhece um bom hospedeiro.
Sentia-se bem melhor, mais leve para correr, mas teve um estalo em sua barra metálica, sinais de dor e cansaço estavam impressos, mas esses sinais foram mais que alertas, foram uma nova luz brilhando em seu caminho. Ela lembrou de seus pais, professores, amigos distantes, que por muitas vezes lhe deram muito em tao pouco tempo de ligação.
Ela parou, completamente parou, muita gente conhecida se assustou ao ver aquele objeto de trabalho alí estático, muitos julgamentos ocorreram em volta, muitas voltas dadas a toa, muitas voltas apenas para machucar. Muitos acharam que era seu fim alí, a grande maioria pensa que ao parar não há forma de voltar a girar.
Dentro daquela engrenagem existia uma força que estava por vir, e ao parar ela pode contemplar o mundo todo a sua volta, e viu com mais clareza tudo aquilo que valia a pena em sua nova vida. Ao mesmo tempo que tomava novas doses de consciencia ia alimentando a força motora lá de dentro. Todo objeto, mesmo parado tem sua força, e alimentada por essa força a roda fez aquilo que deve ser feito, girou novamente, mas agora muito mais espontanea e graciosa, oras, como uma roda de ferro dentuça pode ter seu charme. Aquela era a prova, mesmo sendo identica a todas as outras no mundo, ela era diferente.
E o gira-gira da rodinha, era pueril, com toques de maturidade, sem a ferrugem da velhice e da ansiedade, a graxa dava o ar da graça em formas de aromas agradáveis. Essa nova investida contra o mundo trouxe-lhe novas amizades.
Junto com tudo novo que viria ela agora tinha olhos para ver, ouvidos para escutar, antes de se ligar dente a dente ela tinha noção de futuro, sabia que não podia mais emperrar. Vislumbrou grandes associaçoes de engrenagens, concorreu para participar com elas de um grande trabalho gratificante.
Conheceu uma grande roda, lenta para quem enchegava de perto, mas muito produtiva a quem se coligava. De cara não ligou, foram se conhecendo, dia apos dia, noites por vindouras, e sentiu que esta grande roda secundava muito suas vontades e necessidades. Um ritmo forte e constante se iniciou em sua vida.
Um certo dia, ao abrir bem os olhos e olhar em volta, estava as duas juntas, na mesma velocidade e mesmo tamanho. Tudo estava acontecendo tempo depois de tempo, o sentimento de não ser nada alem de metal bruto havia passado, ela via além das engrenagens, ela via que as voltas dadas faziam o mundo todo girar, que graças a elas, engrenagens, existia energia nos lares, existiam grandes relogios, maquinas que constroem as civilizações, que por sua vez são um outro tipo de organismo que tenta se afinar e tocar em uma bela harmonia sonora.
26 março, 2010
Sincronicidade e Engrenagens
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